Os brises proporcionam proteção solar e permitem a entrada de luz natural
15/10/2010
Projetado pelo escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos, o Edifício Jatobá ocupa um terreno de cerca de 3,5 mil m², num trecho ainda pacato do bairro do Brooklin, em São Paulo, em um raro lote de meio de quadra com duas frentes, para as ruas Surubim e Taperoá. Na definição do partido arquitetônico, os arquitetos consideraram a visibilidade do edifício como premissa fundamental. Assim sendo, dada a largura relativamente acanhada da rua Surubim, optaram por construir um prédio não muito alto – característica comum aos edifícios vizinhos – e com um generoso recuo. De tal intenção resultou um edifício de apenas oito andares, sem prejuízo dos limites máximos de ocupação e de aproveitamento permitidos – 50% do lote e de quatro vezes a sua área, respectivamente.
Os afastamentos nas laterais (7 m) e na rua Taperoá (5 m) permitiram a criação de uma ampla praça na face voltada para a rua Surubim. Apesar das testadas de grandes dimensões (71,5 m), os arquitetos voltaram os acessos do público e às garagens exclusivamente para a rua Surubim. À primeira vista, o Jatobá pode passar a impressão de que tem dois blocos. Mas é uma única edificação composta por dois volumes em formatos diferentes – um curvo e outro retangular, interligados pelo corpo de circulação vertical. O diferencial em relação às soluções correntes reside na atenção dada ao hall dos elevadores, normalmente um espaço hermético, situado no miolo de cada pavimento. Segundo o arquiteto Luis Felipe Aflalo Hermann, “a intenção foi a de abrir francamente esse espaço para o exterior, proporcionando vasta iluminação, além de dimensões generosas, de modo a valorizar as áreas de recepção e distribuição, quando o andar for ocupado por um único escritório”. Cada pavimento possui área de 1.600 m² e pode ser ocupado por até quatro escritórios.
BRISES
As soluções adotadas nos fechamentos do edifício foram determinadas pela orientação do sol. Nas faces voltadas para leste e oeste, onde a incidência é maior, as aberturas foram limitadas a 1,40 m de altura, ou seja, metade da distância do piso ao forro. As superfícies opacas correspondem a revestimentos de vidro branco leitoso – material de alto poder reflexivo – aplicados sobre as bordas laterais e vigas. Abaixo delas é utilizada uma faixa de 70 cm de vidro laminado com película PVB marrom. Na fachada norte, que recebe insolação durante todo o dia, porém com menor intensidade, as aberturas têm o dobro de altura e não há peitoris. As faixas de vidro incolor alternam-se com as de vidro marrom. Toda a superfície é protegida por dupla faixa de brises horizontais, dispostos 70 cm acima do piso e 70 cm abaixo do forro. A faixa superior avança nos interiores, constituindo uma espécie de bandeja de alumínio pintada na cor branca capaz de irradiar, por reflexão, luz natural para a periferia do ambiente. A solução garante ao edifício economia no consumo de luz artificial.
A proteção solar do hall de acesso de cada andar de escritório se dá com o prolongamento dessa dupla faixa de brises em 10 m a partir da fachada, apoiada em uma coluna metálica recuada. Afastada 6 m do pano de vidro dos halls, compõe um rendilhado visualmente solto no espaço, constituindo um vazio significativo no conjunto. Em lugar da tradicional modulação de 1,25 m para os caixilhos, os arquitetos adotaram a de 2,5 m. Apesar de reconhecer que com essa duplicação do módulo perde-se na flexibilidade, o arquiteto Aflalo Hermann afirma que se tem um ganho formal significativo, pois a redução do número de montantes acentua a horizontalidade da caixilharia, tornando a solução mais elegante. O sistema de fixação adotado é o stick – os caixilhos são fixados na estrutura de alumínio do prédio – em oposição ao sistema unitizado, em que o caixilho é montado inteiro.
Outro diferencial do Jatobá está no uso do piso térreo, geralmente destinado a espaços condominiais, tais como salões, auditórios etc. Aqui, a parte voltada para a rua Taperoá foi reservada para dois escritórios com 300 m² de área livre cada um, valorizados pelo amplo pé-direito (4,30 m) e pelo jardim privativo. Já o térreo do volume retangular teve ocupação usual, ou seja, auditório e espaço para coffee-break voltado para um jardim com espelho d’água. O fechamento se dá por portas de correr do tipo veneziana. Sanitários, copas, vestiários e depósitos, além de elevadores e escadas, estão reunidos num corpo central longilíneo.
SUBSOLO E COBERTURA
O edifício conta com quatro subsolos para 350 vagas com acessos independentes para condôminos e visitantes. Evitou-se um subsolo elevado em relação ao nível da calçada. “Essa solução é corrente, dada a economia na extensão das rampas e no corte do terreno, mas geraria uma descontinuidade, constituiria uma barreira, prejudicando o ‘respiro’ da rua”, explica o arquiteto. Como fator importante para o conforto dos usuários, o profissional destaca as 54 vagas de bicicletas e os vestiários. Além disso, ressalta o atendimento desses pisos por dois elevadores exclusivos, sendo o hall correspondente dotado de ar condicionado e acabamento requintado em granito, de modo a garantir tratamento idêntico ao dos andares dos escritórios.
A cobertura é parcialmente ocupada pelas instalações de ar condicionado, além das escadas, elevadores e heliponto. Uma área para café cria ambiente agradável à convivência, enriquecido por amplos jardins laterais – concepção da paisagista Isabel Duprat -, que se expandem pela periferia do pavimento. Todo o desenvolvimento do projeto foi conduzido visando à sustentabilidade do empreendimento, especialmente no que se refere à melhor eficiência energética e à economia de recursos naturais. Além do controle de incidência solar e dos mecanismos de reflexão da luz natural externa para o ambiente interno, foram também previstos sistemas de ar condicionado setorizados e individualizados (sistema VRV – volume de refrigeração variável) e o reúso de águas pluviais. Essas preocupações valeram ao Jatobá Green Building a classificação Gold concedida pelo Leed.
Fonte: Piniweb